11/10/2017 às 22h27m
- Atualizado em
12/10/2017 às 08h22m
Por: Isabela Veríssimo do Do Diário de Pernambuco - Foto: Peu Ricardo/DP
As mudanças no programa Minha Casa Minha Vida promovidas pelo Governo de Michel Temer (PMDB) foram alvos de manifestações em diferentes pontos do Recife na manhã desta quarta-feira (11). A reivindicação contra um orçamento que não prevê recursos para a faixa um - famílias com renda mensal bruta de zero a três salários mínimos -, foi promovida pelo Fórum de Reforma Urbana e Frente de Resistência Urbana, formado por diferentes entidades, como o Movimento Nacional da Luta pela Moradia (MNLM) e o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). O déficit habitacional em Pernambuco totaliza a necessidade de mais de 263 mil moradias. Na Região Metropolitana do Recife, o déficit é de 60 mil.
A estratégia traçada por eles foi bloquear pontos de alto tráfego no Recife. A Avenida Cruz Cabugá, Avenida Norte e o Cais de Santa Rita foram alguns dos lugares que ficaram intransitáveis por mais de uma hora. Às 9h, o ponto de encontro foi o Parque Treze de Maio, uma concentração para a marcha que teve como destino o Palácio do Campo das Princesas, no Centro da capital. A assistente social e integrante da União Estadual por Moradia Popular, Rhaynara Affonso, 27 anos, explica que o ato é resultado da união de diversos movimentos nacionais. “Nós viemos lutar pela moradia, mas também por todos os direitos sociais que estão sofrendo um desmonte nas políticas públicas. Lutamos contra cortes, congelamentos e as formas que o Governo tem de nos atacar todos os dias na calada da noite. Essa reivindicação não seria necessária se nos dessem o que é nosso por direito, mas viemos para um espaço público e vamos ocupar a cidade”, relata.
Com faixas, carro de som, sinalizador e palavras de ordem, a marcha teve início às 10h50. Durante o percurso, o índio Genilson Leite do Nascimento, 49, da tribo Xucurú de Simbris, em Pesqueira declara que veio morar no Recife com os filhos, mas está sem moradia. “Nós tivemos que fazer um barraco e invadir um terreno, mas, depois que o Governo Temer assumiu, ficamos sem nada”, declara ao lado do filho Pablo José, de 23 anos, atualmente desempregado.
Ocupar é resistir
Em curso, na altura da Rua do Sol e do Palácio do Campo das Princesas, policiais do Batalhão de Choque entraram em confronto com manifestantes. Gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas de borracha em direção ao grupo foram algumas das estratégias policiais utilizadas para dispersar o movimento. A primeira bomba de gás foi disparada após um policial ser atingido com uma pedra no peito atirada por um dos manifestantes.
A pastora Maria Alessandra Souza, 37 anos, grávida de seis meses foi uma das manifestantes a inalar o gás lacrimogêneo. Devido à queda de pressão, desmaiou e foi socorrida por outros militantes que passavam no local. “Só lembro que estava no meio do tumulto, era muita correria. Estou aqui desde 7h e não esperava essa reação da polícia. Quando vi, já estava no chão”, relatou.
O pedreiro José Genival Eustáquio, 58, também foi vítima da agressão. “Estávamos nos aproximando para ver se o governador Paulo Câmara nos atendia quando fui atingido nos olhos pelo spray de pimenta. A polícia não viu ninguém, não respeitou. Era idoso, homem, mulher, criança. Não se preocupam com o que é errado, os assaltos a ônibus, estupros… Mas quando resolvemos lutar, aí sim somos tratados como bandidos”, finalizou.
Do Palácio
Segundo nota oficial do governo do estado, "Com agressividade, os manifestantes, ao chegarem ao Palácio do Campo das Princesas, tentaram derrubar o gradil que faz a segurança do patrimônio público e atacaram os policiais que faziam a contenção".
O comunicado ainda diz que, antes do incidente, o chefe da Casa Militar, coronel Eduardo Pereira, se dirigiu aos manifestantes e pediu que fosse formada uma comissão a ser recebida por representantes do governo. O movimento teria se negado ao diálogo e partiu para o ataque. A PM diz que foi recebida com pedras e homens da corporação foram atingidos na cabeça com tijolos.
A assessoria afirma ainda que "por meio da Casa Civil e da Secretaria de Habitação, o governo tem dialogado permanentemente com todos os movimentos sociais. Ontem mesmo, integrantes desses movimentos estiveram com o próprio secretário de Habitação do Estado, Kaio Maniçoba, e com a Casa Civil".