08/03/2017 às 09h13m - Atualizado em 08/03/2017 às 10h12m
Dia Internacional da Mulher, o Timbaúba Agora homenageia Isnar de Moura, pioneira do jornalismo pernambucano
A timbaubense Isnar Cabral de Moura trabalhou durante 40 anos na imprensa e também escreveu livros sobre educação.
Isnar de Moura, considerada a presença feminina pioneira no jornalismo pernambucano. Nome fundamental para a história da imprensa do estado. Fonte: Jornal do Comercio.
A jornalista nasceu em 1909, na cidade de Timbaúba, mas estudou em Olinda e no Recife. Primeira mulher a trabalhar em uma redação de jornal, ele foi pioneiro na década de 1940. Trabalhou no Jornal do Commercio, escrevendo sempre sobre educação e sociedade, seguindo depois para se dedicar à pesquisa em pedagogia. Foi autora dos livros Poesia de três idades e Admirável mulher do Capitão Zeferino.
Isnar Cabral de Moura não tinha no jornalismo a sua primeira profissão. Primeira mulher a trabalhar numa redação de jornal no Recife, em 1949, ela antes exerceu o magistério. Sua primeira matéria publicada na imprensa saiu num jornal de Vila Bela, então distrito de Serra Talhada, no Sertão. Passou a colaborar também na imprensa do interior, publicado textos em pequenos jornais de Timbaúba, na Mata Norte. Em 1935, a convite do secretário de Redação Valdemar Lopes, ela passou a colaborar na Página Feminina, aos domingos, no Jornal do Commercio, às vésperas do matutino completar sua primeira década de circulação. A princípio, ela publicava poesias, que logo chamaram a atenção. Em seguida, passou a publicar até três crônicas semanais sobre educação.
A boa repercussão de seus textos levou Silvino Lopes a convidá-la a assumir a coluna diária Mundanismo, na então Folha da Manhã. Foi um susto para ela. “Achei estranho e lhe perguntei: Eu, uma matutinha do Sertão, escrever sobre isto? ”, relembrou no Jornal do Commercio, em reportagem comemorativa aos seus 40 anos de jornalismo. Como gostava de desafios e de escrever, aceitou. “Aí comecei realmente a receber dinheiro como jornalista”.
Isnar recordava que levava uma vida agitada na Redação. Em abril de 1950, já assumia a coluna Registro, com um ordenado de 200 mil réis. Embora não fosse uma boêmia, como dizia, era frequente suas passadas pelas mesas do Bar Savoy, na efervescente Avenida Guararapes, onde jogava bozó (um jogo de dados) com Edson Régis, Solon e Altamiro Cunha. “Eles tinham muito carinho por mim e deixavam eu ganhar”.
Isnar também foi uma das pioneiras no colunismo social, escrevendo na mesma página que tinha Nelbe Chateaubriand como titular, em meados dos anos 1950. Nessa época, ela chegou a participar de até quatro eventos sociais numa noite. “Eu trabalhava até às 23h. Minha mãe ficava me esperando no portão de casa, apreensiva”, recordou Isnard, que nunca se casou nem teve filhos. “Não nasci para o casamento. Casar não era para mim, mas tive muitas paixões”, declarou.
Na verdade, seu casamento era com a escrita e com a educação. Como escritora, publicou seis livros, tendo estreado com Poesia em três idades, além de Estações da crônica e de A admirável mulher do capitão Zeferino, biografia sobre sua mãe, em dois volumes. Funcionária da Secretaria de Educação, emprego que conciliava com o jornalismo, aproveitou a experiência na vida pública para escrever as obras Seis anos de verificação do rendimento escolar em Pernambuco e Uma experiência de avaliação, numa tentativa de democratizar o ensino, até então muito elitizado. “A história chamou a atenção das escolas, que não topavam com o que eu escrevia. E vieram as críticas”. O influente Nilo Pereira foi um dos que a criticou, em suas Notas avulsas, no próprio JC. Isnar comprou a briga e escreveu 18 artigos sobre educação em resposta ao jornalista.
Isnar deixou o batente em 1976, após 40 anos de jornalismo. Sua aposentadoria se deu “por velhice” e não por serviço, como fazia questão de frisar. Além da oportunidade de realizar escrevendo, o trabalho como jornalista e na Secretaria de Educação lhe renderam muitas viagens, outro grande prazer seu. “Como jornalista, apesar de ganhar muito pouco, não tenho nada a reclamar. Foi uma época muito gratificante para mim”, garantia ao recordar seu passado, folheando com carinho seus vários álbuns de recortes, no já distante ano de 1989. Isnar Cabral de Moura faleceu em outubro de 2014, aos 105 anos.
Fotos: Jornal do Comercio