11/02/2020 às 09h20m - Atualizado em 11/02/2020 às 09h29m
Na Paraíba, jovem de 18 anos cata latinhas para pagar tratamento da mãe
Gabriela Paola Santos Cunha quer se tornar empresária e ter dinheiro suficiente para custear o tratamento da mãe, que nunca foi feito integralmente por falta de recursos financeiros.
As informações são do G1 Paraíba
Com apenas 18 anos de idade, Gabriela Paola Santos Cunha não vive uma realidade fácil. Mas as dificuldades não a impedem de sonhar alto. A garota, que mora em Picuí, no Seridó da Paraíba, cata latinhas para sustentar o sonho de se tornar empresária e pagar um tratamento para a doença da mãe.
A mãe de Gabriela, Edneide Cristine Dantas Santos, de 56 anos, é auxiliar de enfermagem e foi diagnosticada com colite crônica. A doença intestinal impede que o organismo dela absorva os nutrientes dos alimentos que come. Ela chegou a pesar 36 kg.
Edneide está afastada do emprego por causa da doença. Ela recebe um benefício pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), mas o dinheiro só é suficiente para bancar as despesas básicas da casa e comprar parte dos remédios que precisa tomar. O tratamento nunca foi feito integralmente.
Desde que soube da doença, Gabriela tenta ajudar nas despesas da casa. Catar latinhas não foi a primeira opção da garota, que é filha única de pais divorciados. Ela procurou emprego em muitos estabelecimentos da cidade. Mas, sem perspectiva de contratação, viu que trabalhar com a reciclagem seria a única alternativa. “A única forma que eu achei foi essa”, reforçou. Há cerca de um ano, uma empresa de reciclagem foi aberta no município em que ela mora.
“Estavam pegando papelão, garrafa descartável e latinha. Eu vi que o que daria uma renda melhorzinha seria a latinha”, explicou. A jovem coleta o material em bares, espetinhos e festas privadas. Na maioria das vezes, ela trabalha à noite, mas não reclama. O faturamento dela é de, no máximo, R$ 120 por mês.
Gabi, como gosta de ser chamada, também não reclama do preconceito, mesmo sendo magoada por quem discrimina o trabalho que ela desempenha com a reciclagem.
“Tinha mais no começo. Um dia fui pra uma vaquejada com amigos e peguei uma sacola. Um menino olhou e perguntou se eu tava morrendo de fome. Eu olhei e fiquei calada, fui catar o resto das latinhas. Fiquei chateada. Não fazia porque eu tava morrendo de fome, mas eu precisava ajudar em casa”, desabafou.
A dedicação de Gabriela é conhecida pela região. Comerciantes e pessoas que fazem festas em casa costumam reservar o material de entregar nas mãos dela. Alguns deixam até na casa onde ela mora.
As intenções de Gabriela reforçam que há um amor tão forte quanto o de uma mãe para um filho: o de um filho para a mãe.
"Minha mãe não fala nada, a única coisa que ela faz é me abençoar quando eu saio. Ela não tem vergonha de mim”, garantiu. Em nenhum momento a jovem pensou em desistir e guarda, entre tantas lições, uma das mais valiosas que a mãe poderia ter deixado.
“Eu acho que a gente só consegue as coisas se batalhar. Minha mãe dizia sempre que se eu quiser alguma coisa na minha vida, eu tenho que correr atrás”, pontuou.
Paixão pelo ramo automotivo surgiu na lavagem de motos e carros
A paixão de Gabi pelo ramo automotivo surgiu em outro trabalho que ela encarou: a lavagem de carros e motos. Mesmo precisando de pouco para começar a trabalhar, ela também enfrentou dificuldades.
Os tios dela tinham um equipamento de lavagem de pequeno porte e passaram para ela. Ela cuidava dos veículos no beco da casa onde mora e ia buscá-los caminhando.
O micronegócio precisou ser interrompido porque as instalações não eram as ideais. Os veículos ficavam no sol e secavam antes que ela pudesse retirar os produtos de limpeza, o que fazia com que ficassem manchados.
Gabi sabe o que quer e também o que precisa fazer para chegar lá. Por isso, ela valoriza os estudos. Cursa a segunda série do ensino médio em uma escola pública. Assim, o dia ficou preenchido com a esperança de um emprego.
Trabalho na feira
Gabriela também trabalha com mudanças e fretes com carrinhos de mão na feira da cidade onde mora. Ela contou que o preconceito no local não é de classe, mas de gênero.
"Fui muito humilhada também. Ouvi muitas vezes que uma menina é pra estar na cozinha, em casa. Não é pra pegar no pesado não”, relatou.
Fotos: Gabriela Paola Santos Cunha/Arquivo pessoal