29/10/2025 às 20h03m - Atualizado em 29/10/2025 às 20h26m
Professora é assassinada horas após ir a delegacia depor sobre desvios de emendas parlamentares em Ipojuca
Simone Marques da Silva, de 46 anos, era professora universitária e foi morta no quintal de casa. Ela não chegou a prestar depoimento porque outro procedimento estava sendo realizado na delegaci

Uma mulher de 46 anos foi morta a tiros em Ipojuca, no Grande Recife, na tarde da terça-feira (28). A vítima, identificada como Simone Marques da Silva, foi assassinada poucas horas depois de ir à delegacia de Porto de Galinhas para depor no inquérito que investiga desvios de verbas de emendas parlamentares da Câmara de Ipojuca.
Simone Marques era professora universitária e, apesar de ter comparecido à delegacia, não chegou a ser ouvida, porque outro procedimento estava sendo realizado no local. Ela voltou para casa após remarcar o depoimento para esta quarta (29), mas foi morta horas depois, no quintal da residência.
Simone Marques era professora da Faculdade Novo Horizonte, citada no inquérito que investiga um desvio de emendas parlamentares que pode chegar a R$ 27 milhões. A faculdade seria uma das empresas utilizadas por um grupo criminoso para praticar os desvios.
Consta na certidão de comparecimento que Simone Marques chegou à Delegacia de Porto de Galinhas por volta das 12h40, acompanhada de um advogado, e permaneceu no local até as 13h.
Segundo o advogado de Simone, que não quis se identificar, após pegarem a certidão de comparecimento, os dois saíram de carro e voltaram para o escritório do defensor. Simone Marques foi deixada na frente do estabelecimento e voltou sozinha para casa.
Às 15h55, a Polícia Militar foi informada do assassinato de Simone. Ela morava com os pais na Rua Ana Maria Dourado, no Centro de Ipojuca.
O caso foi registrado como "homicídio consumado" e que abriu um inquérito "para apurar as circunstâncias do crime e identificar a autoria".
As empresas e o esquema
O esquema envolvia o uso de emendas parlamentares impositivas, instrumento pelo qual vereadores destinam parte do orçamento municipal, geralmente em torno de 2% da Receita Corrente Líquida, para projetos e áreas específicas. No caso investigado, os recursos deveriam ser aplicados em serviços de saúde em Ipojuca.
As apurações indicam que os recursos públicos foram destinados a associações de fachada localizadas em outros municípios, sem estrutura ou competência técnica para executar os projetos contratados.
Uma das empresas que receberam verbas oriundas de emendas parlamentares foi a Faculdade Novo Horizonte, que também é conhecida como Instituto Nacional de Ensino, Sociedade e Pesquisa (Inesp). Conforme a denúncia, a instituição recebeu repasses milionários para cursos de capacitação, com planos de trabalho considerados inconsistentes e orçamentos inflados.
O gestor do Inesp, Gilberto Claudino da Silva Júnior, é apontado como "coordenador" das fraudes, e também já presidiu outras instituições investigadas.
Ele teve prisão preventiva decretada, mas não foi encontrado no condomínio de luxo onde morava, na Praia do Cupe, em Porto de Galinhas, em Ipojuca. Ele fugiu horas antes do cumprimento do mandado e está foragido.
As verbas recebidas pelo Inesp eram repassadas pelo Instituto de Gestão de Políticas do Nordeste (IGPN), que foi o maior beneficiário das emendas parlamentares de Ipojuca, recebendo mais de R$ 6 milhões em menos de um ano.
O IGPN foi criado em Barreiros, na Zona da Mata Sul, e, recentemente, teve sua sede transferida para Catende, também na Mata Sul. O município fica a mais de 100 quilômetros de Ipojuca e foi contratado para atuar na saúde mental da cidade.
Até o momento, três pessoas foram presas na investigação:
- Maria Netania Vieira Dias, esposa de Gilberto Claudino e responsável pela elaboração dos projetos das associações;
- Advogadas Edjane Silva Monteiro e Eva Lúcia Monteiro, irmãs que atuavam na Rede Vhida, outra instituição usada para desviar recursos, segundo as investigações.
Além de Gilberto Claudino, há três pessoas foragidas. Todas ligadas ao IGPN:
- Geraílton Almeida da Silva: considerado um dos principais articuladores do esquema, teria criado o IGPN e cooptado seus próprios funcionários para atuarem como “laranjas” e, depois, destituiu os colaboradores, passando a controlar a entidade por meio de pessoas próximas;
- Júlio César de Almeida Souza, primo de Geraílton e apontado como diretor financeiro do IGPN;
- José Gibson Francisco da Silva, presidente do instituto.
A Polícia Civil investiga também a possível participação de vereadores no esquema.
Saiba como denunciar violência contra mulher em PE
- Em Pernambuco, as denúncias de violência contra mulher podem ser feitas através do telefone 180, da Central de Atendimento à Mulher, que funciona 24 horas por dia, inclusive aos finais de semana e feriados;
- A Polícia Militar pode ser contatada pelo 190, quando o crime estiver acontecendo;
- Também é possível, no Grande Recife, fazer denúncias pelo Disque-Denúncia da Polícia Civil, no número (81) 3421-9595;
- O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) também pode ser acionado de segunda a sexta-feira, das 12h às 18h, através de uma ligação gratuita para o número 0800.281.9455;
- Outra opção é a Ouvidoria da Mulher de Pernambuco, que funciona pelo telefone 0800.281.8187;
- Os endereços e telefones das Delegacias da Mulher podem ser consultados no site do TJPE.


