04/12/2025 às 19h04m - Atualizado em 05/12/2025 às 18h21m
Sem programas sociais, extrema pobreza no Brasil seria até três vezes maior
Rede de proteção impede que milhões de brasileiros caiam na miséria e reduz desigualdades regionais

Entre 2023 e 2024, o Brasil registrou avanços importantes na redução da pobreza e da extrema pobreza, conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As informações fazem parte da Síntese de Indicadores Sociais, que apresenta o comportamento das linhas de pobreza calculadas pelo Banco Mundial.
A proporção de brasileiros em situação de pobreza caiu de 27,3% para 23,1%, o equivalente a 8,6 milhões de pessoas que deixaram essa condição. A extrema pobreza também recuou, passando de 4,4% para 3,5%, retirando 1,9 milhão de pessoas da faixa de renda mais crítica.
Sem programas sociais, extrema pobreza quase triplicaria
O estudo do IBGE confirma que os programas sociais desempenham papel decisivo na proteção da população mais vulnerável. Se esses benefícios não existissem, a extrema pobreza saltaria de 3,5% para 10% da população — quase o triplo. Já a pobreza subiria de 23,1% para 28,7%, um aumento que reverteria completamente os avanços recentes.
O relatório destaca que a manutenção do Bolsa Família em valores superiores ao período pré-pandemia foi essencial para frear o avanço da miséria em 2024. Além disso, a melhora do mercado de trabalho colaborou para reduzir especialmente a pobreza, mais sensível à oscilação da renda laboral.
Diferenças regionais revelam vulnerabilidade no Nordeste
O Nordeste apresentou a maior redução proporcional na pobreza entre 2023 e 2024, passando de 47,2% para 39,4%. Apesar da queda acentuada, ainda é a região com maior percentual de pessoas em situação de vulnerabilidade. No Sul, a taxa de pobreza atingiu 11,2%, a menor do país.
A análise do IBGE também mostra que Norte e Nordeste sofreriam os impactos mais severos caso os programas sociais fossem suspensos, com forte elevação do índice de Gini — que mede desigualdade — nessas regiões.
Desigualdade racial e de gênero permanece evidente
Os dados indicam que mulheres, pretos e pardos sofrem mais com a pobreza. Em 2024, 24% das mulheres estavam nessa condição, frente a 22,2% dos homens. Entre pessoas pretas, 25,8% eram pobres; entre pardas, 29,8%; enquanto entre brancos o índice ficou em 15,1%.
Na extrema pobreza, a diferença também é acentuada: 3,9% entre pretos, 4,5% entre pardos e 2,2% entre brancos.
Previdência protege idosos e evita explosão da miséria
O relatório revela que os benefícios previdenciários são fundamentais para impedir o empobrecimento da população idosa. Entre pessoas com 60 anos ou mais, a extrema pobreza é de 1,9% e a pobreza, de 8,3%. Sem aposentadorias e pensões, esses índices disparariam para 35,2% e 52,2%.
O estudo reforça que os reajustes periódicos do salário mínimo e a estabilidade da previdência são fatores decisivos para a segurança financeira dessa faixa etária.
Brasil segue entre os países mais desiguais da OCDE
Mesmo com avanços, o Brasil ainda figura entre os países com maior desigualdade de renda. Em 2022, os 20% mais ricos ganhavam 11 vezes mais que os 20% mais pobres — segunda maior disparidade entre os 40 países avaliados pela OCDE.
Sem programas sociais, a desigualdade medida pelo índice de Gini aumentaria 7,5% no país, afetando sobretudo os estados do Norte e do Nordeste.
Trabalhadores pobres: país lidera ranking internacional
A OCDE também aponta o Brasil como o país com maior proporção de trabalhadores pobres, aqueles que, mesmo ocupados, vivem em domicílios com renda per capita abaixo da linha de pobreza. Em 2024, 16,7% dos trabalhadores brasileiros se encaixavam nessa definição.
Pelas métricas do Banco Mundial, 12 milhões de trabalhadores ocupados estavam na pobreza, além de 47,6% dos desocupados e 27,8% das pessoas fora da força de trabalho.
Setores mais afetados e impacto da informalidade
A pobreza é mais intensa entre trabalhadores da agropecuária (29,3%) e dos serviços domésticos (22,9%). Já nos setores de administração pública, saúde e serviços sociais, o índice cai para 4,6%.
A informalidade e a baixa remuneração continuam sendo elementos centrais para explicar a permanência da pobreza em diversas regiões do país, reforçando a importância dos programas sociais como instrumento de redução da desigualdade.


